Ação dos medicamentos no reparo e cicatrização de feridas.

25/01/2022 | Enfermagem | Consumo | « Voltar

Falamos muito na importância de uma boa nutrição, de uma cobertura ideal e da hidratação para que as feridas ou lesões tenham um curso de reparo/cicatrização mais satisfatório possível.

Todavia, vale lembrar que ter noção do quanto os fármacos podem influenciar negativamente no reparo tecidual é necessário para que profissionais ou cuidadores tenham um entendimento amplo de como deverão repensar em outras estratégias para o sucesso da cicatrização.

Medicamentos que agem negativamente na cicatrização de feridas.

Há muitos trabalhos científicos mostrando diversos grupos farmacológicos que repercutem negativamente no reparo tecidual. Um exemplo, são os quimioterápicos, que interferem na divisão celular não apenas das células cancerígenas, mas também das nossas células epidérmicas.

Basicamente, para entendermos como agem alguns desses fármacos, vamos a alguns exemplos:

- anti-hipertensivos: onde podemos usar como exemplos, os anlodipinos e o atenolol. Esses primeiros aumentam o rash cutâneo. Já o segundo, é um beta bloqueador que na derme diminui o fluxo sanguíneo levando a vasoconstrição periférica, afetando a irrigação desta camada cutânea, além de ressecar a pele, já que bloqueia os anexos epidérmicos;

- broncodilatadores, como exemplo, temos o bromidrato de fenoterol, um agonista dos receptores beta-2-adrenérgicos- indicado para o tratamento da asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, as DPOCs: quando administrado via aerossol, eles fazem vasoconstrição dos capilares da derme, diminuindo a troca e o fluxo sanguíneo, repercutindo na oxigenação dos tecidos e, consequentemente, da pele e das feridas.

- drogas que atuam no sistema nervoso central como antidepressivos, anti-psicóticos, anticonvulsivantes, barbitúricos, benzodiazepínicos podem diminuir a sensibilidade a dor e diminuir a sensação de pressão. Por deprimirem as terminações nervosas, e consequentemente a resposta a dor, deixam o paciente propenso a lesões por pressão (LPP), por exemplo.

- imunossupressores e anti-inflamatórios de uso sistêmico: diminuem a produção de interleucina 1, interleucina 6 e o fator de necrose tumoral (FNT) produzido pelas células de Langehans. Essas células quando inibidas, diminuem seus recrutamentos do sistema de defesa, fundamentais na primeira fase de reparo tecidual (fase inflamatória).

- antibióticos (como exemplo: penicilinas, as cefalosporinas, os carbapenêmicos, as vancomicinas, entre outros): sabemos que este grupo farmacológico possui ao menos quatro mecanismos de ação diferentes. Um deles é a interferência benéfica que faz ao bloquear a produção das proteínas da parede bacteriana, destruindo-a. Todavia, por outro lado também acabam interferindo na produção dos aminoácidos necessários a formação das proteínas dérmicas (da pele), fundamentais na segunda fase do reparo tecidual/cicatrização (fase proliferativa).

Aqui foram citados alguns grupos farmacológicos, mas a lista não para por aí...

Mas você pode estar se perguntando: o que eu, profissional de saúde posso fazer diante de pacientes que usam muitas vezes de forma crônica, medicamentos que interferem negativamente na ferida, e que dificilmente terão a sua suspensão autorizada pelo seu médico?

Medidas que ajudam a cicatrização da pele em pacientes com uso crônico de medicamentos.

Fica aqui uma reflexão sobre como podemos incorporar medidas que ajudem a pele ou previnam a sua piora, a partir do uso desses medicamentos:

- Atentar e registrar o exame físico cutâneo sempre antes e depois do uso dessas medicações;

- Utilizar um sabonete e um hidratante com pH compatível ao da pele, como os acidificados e suaves;

- Discutir e avaliar junto com o médico que prescreveu sobre o tempo prolongado das drogas ou a real necessidade da manutenção em razão do prejuízo tecidual;

- Pensar em medidas que protejam a pele em razão do bloqueio que imunossupressores e anti-inflamatórios fazem sobre as células de defesa da pele;

- Tentar melhorar o fluxo sanguíneo com o uso de meias compressivas e/ou empregando calor na circulação periférica, em razão da vasoconstrição feita por algumas drogas, como atenolol, por exemplo;

- Contribuir, dentro do possível, para uma prescrição mais racional;

- Promover estratégias protetivas em razão da diminuição da sensibilidade que alguns analgésicos fazem.

Há muito o que se fazer... São muitas as estratégias para pensarmos diante desses pacientes, especialmente quando estes carregam uma “polifarmácia”.

Ter conhecimento da interferência desses fármacos na ferida, é um passo importante.

Reunir-se com farmacêuticos, médicos e enfermeiros para proporem soluções é outro.

Assim, todos alcançarão mais rápido sucesso no fechamento de muitas lesões.

Escrito pela enfermeira Ana Sofia Dantas Gonçalves

Especialista de Produto Missner&Missner - Brasil.

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Fonte de dados: Instituto Beatriz Yamada na aula sobre “A influência dos fármacos no reparo tegumentar” ministrada pelo Prof. Dr. Rafael Leite Sampaio - Enfermeiro Estomaterapeuta, Doutor em Farmacologia pela Universidade Federal de Fortaleza (CE).